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Online forte e loja física: as armas da Renner na briga contra a Shein

Online forte e loja física: as armas da Renner na briga contra a Shein

O primeiro semestre de 2023, ficou marcado por desafios ao varejo de moda. As vendas patinaram, a disputa com plataformas asiáticas chegou às decisões do governo e muitas lojas fecharam. Grande parte do varejo precisou abrir mão de pontos comerciais para lidar com as dificuldades financeiras. Mas essa não é a realidade da Lojas Renner (LREN3), garante o CEO da companhia, Fabio Faccio, em entrevista à EXAME Invest. Para o executivo, ventos favoráveis já se formam no horizonte da empresa no segundo semestre.  

“Existem empresas que estão passando sérias dificuldades, mas o nosso movimento é pontual, se fecha uma ou outra loja em locais em que já tenho uma unidade para atender os clientes. Eu mantenho as de melhor eficiência e também abro mais lojas onde eu não tenho”, argumenta o executivo. No primeiro trimestre, 20 lojas do grupo foram fechadas, mas a empresa mantém a meta de abrir de 30 a 40 lojas neste ano.

São justamente as lojas físicas que Faccio vê como uma das armas da Renner para brigar na acirrada disputa com Shein e cia. “São competidores importantes, com bons produtos, mas que trabalham praticamente só online. Nós temos o online muito forte, mas também a complementação física e o conhecimento sobre o consumidor”, afirma Faccio.

Outra vantagem, afirma o executivo, está na cadeia de fornecimento local e os longos anos de parceria. “A gente tem os melhores fornecedores, as melhores indústrias do país trabalhando conosco. Isso é um ativo que não se constrói da noite por dia”, afirma. Em abril, a asiática Shein anunciou um acordo de parceria com a Coteminas, do empresário Josué Gomes Silva, presidente da Fiesp, para investir R$ 750 milhões no Brasil e passar a produzir 85% de seu portfólio com fabricantes locais e gerar até 100 mil empregos no país em três anos. O que, segundo Faccio, torna a competição mais “leal”, considerando a geração de empregos localmente e os tributos de se produzir no Brasil.

E mesmo a expertise das plataformas em lidar com base de dados e tecnologia para vender mais deixou de ser a carta na manga para Shein e cia. Ao menos para a Renner, acredita Faccio. “No digital temos evoluído muito e temos um ativo igual ao deles, com uso de inteligência artificial para escolher os melhores produtos.” A companhia gaúcha tem investido cada vez mais esforços em treinar algoritmos. “Diria que num horizonte de um ano a um e pouco estaremos próximos da personalização do consumidor, mas é uma jornada contínua.”

Com um novo centro de distribuição em Cabreúva, no interior de São Paulo, a empresa ainda mais os investimentos em análise de dados e inteligência artificial para ser cada vez mais certeira em previsibilidade de demanda, o que deve ser o primeiro passo, de acordo com o executivo, para a personalização das vendas. Até agora, com o CD ainda operando a 70% – a previsão de estar 100% em operação é entre o fim de outubro e começo de novembro -, a companhia já tem conseguido fazer uma melhor gestão de estoques, identificando exatamente quais produtos e quantidades devem ser entregues em cada loja, de acordo com os dados de vendas. 

Com um começo de ano de vendas andando de lado, não teve mar calmo nem mesmo para a Renner, uma das preferidas do setor para várias equipes dsell side de bancos de investimento e casas de análiseDepois das vendas terem crescido apenas 2,2% no primeiro trimestre, os números de abril a junho que serão revelados na temporada de balanços que se aproxima ainda não devem vir como uma grande injeção de ânimo para os investidores. Mas tempos melhores estão no horizonte, garante o presidente da varejista. 

“Daqui para frente a gente vai ver um cenário melhorando bastante. Principalmente na parte do varejo. O segundo trimestre mesmo ainda virá pressionado, mas será, na nossa visão, um pouco melhor do que até o mercado tem enxergado”, argumenta. Um discurso que precisará ser reforçado para convencer parte do mercado, ao que tudo indica. Em relatório desta terça-feira, 11, a equipe do Itaú BBA chamou atenção para o inesperado pouco interesse de investidores estrangeiros para o papel da varejista – em linha com o desempenho recente na Bolsa: em 12 meses a ação caiu 22%, embora tenha se recuperado ao longo de 2023 (de janeiro até agora, a queda é de apenas 2%).  

Mas Faccio tem razões para o otimismo com a segunda metade do ano. Os primeiros seis meses de 2023 ainda foram muito marcados pela pressão no consumo e o alto nível de inadimplência, que além de machucar as vendas deteriorou a operação do braço financeiro da companhia, o Realize. Agora, a redução de juros mais próxima – a expectativa da maior parte do mercado é de que os primeiros cortes na Selic sejam feitos pelo Banco Central a partir da reunião do Copom de agosto – dá sinais de retomada para os negócios. 

“Para além da redução da inflação e da perspectiva de corte de juros, na operação a gente tem muita coisa positiva que já aconteceu e que agora começa a ajudar bastante, tanto nas vendas quanto na redução de despesas. A gente conseguiu otimizar bastante o nosso trabalho e aumentar a produtividade”, diz.